Brasil tem pequena melhora da eficiência na distribuição de água tratada; desperdício ainda é alto

By Boehler Kurtz 4 Min Read

Em todo o país, o desperdício com vazamentos chega a quase 40% da água tratada.

No Dia Mundial do Meio Ambiente, foi divulgado um estudo sobre o desperdício de água tratada no Brasil.

Pingando de canos, escorrendo pelas ruas, jorrando das calçadas, o Brasil vai formando um índice assustador. País afora, a água é coletada, levada para estações, passa por um caro sistema de tratamento. Aí, quando sai das estações, em média, 37,8% da água simplesmente se perde antes de chegar no registro das casas.

“Olha, imagine uma padaria que de cada dez pãezinhos perde quase quatro. É um absurdo. O padrão internacional considerado razoável seria de 15%”, afirma Gesner Oliveira, coordenador da FGVceisa.
Esse índice contabiliza a água que vaza nas tubulações ou a água que é furtada em ligações clandestinas. A conta é feita com números do governo federal, compilados pelo Trata Brasil.

E a média é ruim é puxada por cidades como Porto Velho, que tem o pior índice do Brasil. De cada 10 litros de água que trata, somem quase 8 litros na distribuição. Entre as 100 maiores cidades do Brasil, 20 perdem mais da metade da água que tratam.

Muitas vezes, os sinais de um vazamento de água são bastante evidentes. A água começa a escorrer pela rua, os moradores avisam a empresa de saneamento e a situação pode ser resolvida rapidamente. O problema é que nem sempre as pistas da perda de água no Brasil são tão fáceis de ser encontradas.

Em São Paulo, a Sabesp usa softwares, sensor nas redes, satélites que mostram diferenças de calor que podem indicar vazamentos. Mesmo assim, encontrar a água fugindo do sistema é um trabalho humano.

Repórter: O que é esse estetoscópio que você está usando?
Funcionário Sabesp: Esse aqui é um geofoone mecânico, a gente escuta em cima da rede.
Repórter: O que você tenta ouvir aí debaixo? O que você identifica?
Funcionário Sabesp: O ruído do vazamento.
Repórter: E aqui você achou algum?
Funcionário Sabesp: Tem um ponto suspeito aqui.

Trabalhoso e caro. Historicamente, o fato de o Brasil ter água abundante fez com que empresas decidissem aumentar a captação, em vez de reduzir as perdas. Mas esse é um cenário que está se transformando. A crise climática já chegou, e o Rio Grande do Sul nos mostrou que falta d’água não vem apenas com a seca. O estado foi inundado e dezenas de cidade sofreram com falta d’água.

“Tipicamente, uma enchente prejudica todos os sistemas de tratamento de água. Ela destrói adutoras que levam a água, ela destrói reservatórios onde há reservação”, afirma Gesner Oliveira.
E a comparação com o consumo de água nos dá uma ideia do tamanho do problema. A água perdida no Brasil em 2022 daria para abastecer o estado por mais de cinco anos.

“A gente precisa melhorar a nossa gestão do sistema de distribuição e captar menos água para depender menos da natureza. Mas a gente pode conseguir esse volume de água nos nossos sistemas de distribuição com a redução de perda de água. Não necessariamente com o aumento na captação nos nossos rios”, diz Luana Pretto, presidente do Trata Brasil.
A Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia afirmou que investiu R$ 20 milhões em pessoal e equipamentos para a fiscalização e a manutenção das redes; e que o governo do estado está empregando mais de R$ 200 milhões em um novo sistema de captação, tratamento e distribuição de água.

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