ONGs, Igreja e professores questionam empreendimento da Petrobras no estado
A possível exploração de petróleo no estado do Amapá afeta a rotina de 11.334 indígenas que vivem em 12 aldeias pela região. A maioria ainda não sabe se apoia o projeto mas a unanimidade é o pedido de preservação das comunidades e áreas ao redor de onde os povos vivem.
O cacique Edmilson Oliveira é líder do Conselho de Caciques do Oiapoque, principal organização indígena do Amapá e fala sobre os impactos nessas comunidades.
“Antes mesmo de começar o empreendimento, a gente já está sofrendo alguns impactos que são preocupantes”, afirma. “Nós, povos indígenas, não somos contra o empreendimento, não somos contra o desenvolvimento, mas queremos ser consultados. Queremos ouvir, entender como é que se dá uma exploração de petróleo, uma coisa que a gente não sabe.”
A Petrobras tenta se aproximar desses focos de resistência com reuniões e encontros. “A última reunião que tivemos com a Petrobras acho que foi no mês de junho, acho que junho ou julho, por aí, nesse período. Foi uma reunião mais informativa mesmo, para a gente conversar e a Petrobras veio para apresentar o projeto, apresentar como iria se dar esse primeiro início de trabalho de pesquisa e no qual, com palavras muito técnicas que a gente não entendeu direito”, critica o líder indígena.
Acadêmicos também tem ressalvas
As dúvidas sobre esse projeto também estão presentes entre os professores da Universidade Federal do Amapá (Unifap). Um deles, o professor Alberto Tostes, afirma que a exploração não deve beneficiar a todos.
“Eu sou a favor de qualquer projeto que venha a beneficiar o desenvolvimento do estado do Amapá, desde que também todas as responsabilidades e implicações, sejam elas sociais, econômicas e institucionais, elas estejam muito bem equacionadas para evitar o que nós já percebemos anteriormente no passado, no antigo território federal e posteriormente no estado de grandes projetos que se instalaram e que o resultado final não foi satisfatório”, diz o acadêmico.
Uma prova dessa promessa de desenvolvimento está nos vagões abandonados em uma ferrovia de 194 quilômetros que levava manganês do interior do Amapá ao porto de Santana, no rio Amazonas. O transporte foi realidade durante 50 anos e hoje os vagões estão parados. A empresa DV Mineração, responsável pela estrada de ferro do Amapá não respondeu nosso contato.
Enquanto a academia vê o projeto com ressalvas, outros líderes são completamente contrários à ideia. No centro da capital Macapá, o padre Sisto Magro, um italiano da Comissão Pastoral da Terra, afirma que essa exploração não vai levar melhorias à comunidade.
“Royalty é algo que não é gerenciado pelo pequeno, é algo que é gerenciado pelo grande, pela autoridade, pelo governante da hora”, comenta o padre. “Então, eles que se beneficiam dessas riquezas. Eles dizem em prol da população, para a benfeitoria da população, que de fato nós no Amapá não estamos muito desenvolvidos e royalty já tem entrado um bocado, mas o Amapá continua pobre.”
Enquanto o entendimento entre Petrobras e moradores e comunidades indígenas não vem, organizações não-governamentais tentam fazer um trabalho de conscientização levando informações aos ribeirinhos.
“Neste ano, a gente conseguiu realizar duas oficinas com pescadores de comunidades aqui do estado do Amapá, que vivem nesta região costeira, a fim de que a gente conseguisse levar informações e tirar dúvidas, curiosidades dessas pessoas”, avalia Flavia Guedes, coordenadora da ONG Mapinguari. “A gente também vem atuando tanto nessas oficinas com as comunidades aqui do estado, quanto na nossa comunicação. Existem muitos discursos e falas que desinformam e acabam por confundir a sociedade.”